A geração John Hughes

John Hughes

Diretor, roteirista e produtor de vários filmes que marcaram os anos 80, que foram a imagem da juventude, John Hughes criou histórias que até hoje conseguem mostrar os conflitos, as dúvidas, os medos encarados por adolescentes e jovens em diversas culturas. Ele participou de muitos filmes como roteirista e produtor, mas vou falar apenas dos que ele fez como diretor.

Hughes realizou comédias sensacionais com John Candy: Antes Só do Que Mal Acompanhado (Planes, Trains & Automobiles, 1987) e Quem Vê Cara Não Vê Coração (Uncle Buck, 1989), filmes clássicos da Sessão da Tarde, que mostravam um homem fora dos padrões, inconveniente, chato, em que ninguém confiava, mas que apesar de tudo era um homem de bom coração. Esse mesmo tipo de personagem é usado no filme A Malandrinha (Curly Sue, 1991), com Jim Belushi. Estes filmes já foram seus últimos como diretor, quando ele já não fazia mais os filmes de adolescentes.

Hughes ainda tem um filme mostrando como é ser um jovem casal no início do casamento, logo após o fim do colégio, Ela Vai Ter Um Bebê (She’s Having a Baby, 1988), que apresentava as dificuldades para se aprender com a vida a adulta, iniciar uma família, como lidar com as responsabilidades e como isso afeta uma relação. Mas os filmes que realmente marcaram uma geração são os que mostravam os dilemas e as dificuldades de ser adolescente, de lidar com o descobrimento da sexualidade, de enfrentar a crescente preocupação com o futuro, com a vida adulta que se aproxima; mostrar como é ser um adolescente e que todos acabam tendo os mesmos problemas e que não são tão diferentes assim quanto eles pensam. O diretor conseguiu mostrar para os jovens da época uma realidade que vale ainda hoje: você não está sozinho, todos passam por problemas e precisam superá-los enquanto amadurecem.

Em 1984, estreava Gatinhas e Gatões (Sixteen Candles, 1984), com Molly Ringwald, que se tornaria uma das musas dos filmes adolescentes dos anos 80. O filme era sobre uma garota no dia de seu aniversário de 16 anos precisando lidar com o fato de que sua família esqueceu o seu aniversário, a irmã está se casando, ela está apaixonada e ela ainda é vista por todos como uma criança. John Hughes, já no seu primeiro filme como diretor, consegue mostrar perfeitamente o que é ser uma adolescente nos momentos de descoberta da vida. A protagonista é o exemplo da garota que sofre, mas sem precisar, porque é o medo e sua autoimagem que criam seus problemas.

Em 1985, dirigiu mais dois filmes. Mulher Nota 1000 (Weird Science, 1985) é uma ode aos desejos adolescentes, especificamente de garotos, quando dão vida a uma mulher perfeita que realiza todos os sonhos deles, uma “Jennie é um Gênio” só que sai de um computador ao invés de uma garrafa. Se antes ele mostrou uma adolescente descobrindo quem ela era, agora ele faz o mesmo com dois garotos que tem muito a aprender sobre a vida. Mas foi com Clube dos Cinco (Breakfast Club, 1985) que ele se tornou um marco da vida adolescente. Hughes não falou apenas com um, mas com todos os adolescentes; ele coloca todos os estereótipos de adolescentes juntos em uma detenção e vai mostrando que cada um ali não é apenas aquilo que aparenta ser, que existe muito mais por baixo da maneira como agem. O filme conta que eles não são apenas O Cérebro, O Atleta, O Caso Perdido, A Princesa e O Criminoso, permitindo que eles descubram que na verdade são todos iguais, todos com seus medos, seus problemas, suas questões, que ali, naquele momento de castigo, eles puderam ser verdadeiros, baixar suas defesas e mostrar quem realmente são, algo que é inconcebível para um adolescente.

Com Curtindo a Vida Adoidado (Ferris Bueller’s Day Off, 1986), Hughes foca no que todo jovem quer ser, no que todo adolescente quer. Todos queremos ser Ferris Bueller! A história de um dia na vida de Ferris Bueller e suas aventuras pela cidade de Chicago são lembradas até hoje. E suas referências repetidas. Ferris é o adolescente que não gosta de escola, que não vê como aquilo vai ser importante para o seu futuro, que não respeita autoridade, e que faz de tudo para se dar bem. Ele é o bon vivant que quer parar para cheirar as flores e não ficar preso em uma sala de aula em um belo dia de sol aprendendo sobre o Socialismo Europeu que não vai mudar o fato dele não ter um carro.

Ferris é o sonho de todo adolescente: ser livre, porque todo adolescente quer ser livre, tornar-se adulto para ter essa liberdade imaginada, sem perceber que, na verdade, talvez esse tipo de liberdade que ele espera não exista. Bueller consegue juntar num filme só os sonhos de liberdade de jovens e adultos.

John Hughes conseguiu em poucos filmes caracterizar uma geração e um tipo de filme. Se você vai fazer um filme sobre adolescentes e sobre a juventude, não tem como não se inspirar nele. Muitos filmes do gênero buscam ali olhar para os feitos do diretor quando buscam suas bases. Hughes escreveu muitos outros filmes, mas foram estes que ficaram na memória de todos até os dias de hoje.