Psycho-Pass (2012), Gen Urobuchi e Naoyoshi Shiotani.
Psycho-Pass é um anime que eu assisti logo que estreou e me empolgou bastante. Os personagens são envolventes e intrigantes, com destaque para Akane, Kogami, o velho Masaoka e o grande antagonista Shogo Makishima. Os conflitos centrais (entre mocinho e bandido, justiça e moralidade, estresse e apatia) são bem construídos no universo criado com um estilo “Minority Report” do Philip K. Dick.
Nesse universo, não se aplica o princípio de que “todos são inocentes até que se prove o contrário”. O julgamento é realizado pelo Sistema Sybil, que analisa o estado mental das pessoas e define se elas são ou não criminosos em potencial. Os “criminosos latentes” podem tentar se reabilitar através de terapia. Mas caso um criminoso seja taxado como irrecuperável, só há dois caminhos: prisão ou morte, mesmo que ainda não tenha cometido crime algum. As investigações em nome do Sybil são realizadas por um grupo especial de criminosos latentes, os Enforcers (“coatores” ou “executores”), que atuam sob o comando de inspetores de polícia e usam as Dominators, armas inteligentes diretamente conectadas ao Sistema Sybil. Akane Tsunemori é uma inspetora de polícia e a história é contada principalmente a partir de seu ponto de vista e das interações com o Enforcer que se torna seu parceiro, Shinya Kogami.
Ouça o podcast sobre o anime aqui.
Uma coisa que muito me atrai no anime é a forma como insere referências à diversas outras obras (filosóficas, sociológicas, psicológicas ou de ficção científica) de maneira fluída dentro do contexto da trama à medida que os fatos vão se desenrolando. Há de tudo um pouco, desde O Contrato Social de Rousseau até Nietzsche, passando pela República de Platão, até obras como 1984, Coração das Trevas, Johnny Mnemonic ~e uma brincadeira divertida na festa à fantasia com o primeiro super sentai, Gorenger. Fora que Psycho-Pass é quase um sucessor espiritual de Ghost in the Shell.
No início, a série desenvolve a história com tramas episódicas e aos poucos vai desenvolvendo a história maior, até chegar ao fatídico embate entre Kogami e Makishima, que representam dois espectros de todos os temas do anime e, ao mesmo em que estão em lados opostos, também são muito parecidos um com outro.
Akane, em especial, é uma das minhas personagens preferidas de animes. Ela é um misto excelente da Deontologia de Kant com a percepção de Durkheim de como crime e crise social alimentam, criam e recriam um ao outro mesmo na sociedade mais utópica. E o melhor é a forma como ela lida com todos os dilemas. Ela faz o que é certo, porque acredita em fazer o que é certo, mesmo que vá de encontro ao sistema, mas ao mesmo tempo, ela entende que as coisas são como são e que ela pode usar isso para fazer o que é certo e, talvez com isso, melhorar o sistema. Por isso, seu Psycho-Pass não oscila. É uma personagem muito boa e que tem um crescimento maravilhoso ao longo da trama. Só por ela, Psycho-Pass já merece crédito. Mas é um anime bem-feito, com uma trilha sonora alucinante (as duas aberturas e os dois encerramentos são fodas) e que usa a ótica futurista para discutir os problemas do nosso presente (como um bom cyberpunk faria).
Isso sem falar nos elementos Dominators e Enforcers e nas discussões sobre detetives e assassinos, criminologia, a importância de uma investigação criminal e as implicações do livre arbítrio (especialmente o livre arbítrio de quem está com a arma inteligente na mão, apontando para um alvo presumido, e não pensa duas vezes se deve ou não puxar o gatilho já que a arma e o sistema estão dando o aval necessário para o gatilho ser puxado).
Essa é outra coisa que faz Akane ainda mais incrível, porque ela sempre se questiona se alguém é ou não é um criminoso, se ela deve ou não puxar o gatilho ~ela não simplesmente atira porque o sistema diz que ela deve dar o tiro.
É um dos meus animes favoritos, já vi e revi algumas vezes. Recomendo fortemente! A primeira temporada é a melhor. Mas as temporadas seguintes (a segunda, o filme que encerra a segunda e a terceira) são muito boas também. Vale muito a pena.
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