O Telefone Preto (2021), Scott Derrickson.
Um filmão bizarro de terror. Na verdade, é muito mais um suspense de sequestro e assassinato com uma boa dose de história de fantasmas. O terror vem muito mais da tensão criada pela expectativa. Porque a trama é focada em duas crianças, os irmãos Finney e Gwen Shaw, sendo que o Finney acaba sequestrado por um cara que é uma espécie de lenda urbana no bairro, chamado simplesmente de “O Sequestrador”. E quando isso acontece, a Gwen entra numa verdadeira saga pra tentar recuperar o irmão. Ela tem alguns sonhos premonitórios que vão dando pistas sobre o possível paradeiro do Finney. O telefone preto é um aparelho bem antigo que fica no cativeiro onde o garoto é mantido pelo sequestrador, e é o elemento que impulsiona (muito bem) a história de fantasmas.
Ouça o podcast sobre o filme aqui.
Existe toda uma construção atmosférica de cenário que faz o filme funcionar. Porque antes mesmo do Finney ser sequestrado, ele sofre com várias outras ameaças por causa de bullying contra outros garotos da escola e do pai que bebe demais e é abusivo. E muitas vezes, a única segurança que ele tem é com a irmã, Gwen, que também enfrenta estes mesmos problemas. Grande parte da história é sobre a segurança que um irmão traz para o outro e no companheirismo entre eles.
O filme é muito bem-feito, muito climático e muito bem contato, baseado em um conto do Joe Hill, filho do Stephen King, um autor com o tato do pai para contar histórias de terror, e este ainda é um filme do Scott Derrickson, um diretor já bastante conhecido e conceituado por outros grandes filmes de terror, como O Exorcismo de Emily Rose e A Entidade ~A Entidade que pra mim é um dos filmes mais assustadores já feitos. Eu gosto muito do trabalho do diretor, e aqui ele ainda trabalha com o C. Robert Cargill, com quem ele já trabalhou em A Entidade. Esses dois juntos constroem um filme poderoso que sabe equilibrar muito bem o terror e o aspecto emocional ao mostrar crianças lidando com as dificuldades dos anos 70, incluindo dificuldades culturais, com o bullying na escola e o hábito dos pais de castigar os filhos batendo com cintos e chinelos. Tudo isso se reflete na história e em seu principal antagonista.
O Sequestrador de Ethan Hawke, que não costuma fazer vilões, é um vilão assustador e bizarro com aquelas máscaras demoníacas, ora com rosto agressivo, ora sorridente, que às vezes lembram O Homem Que Ri (ou o Coringa, já que este último foi inspirado no primeiro). O medo é muito moldado pelas expressões do Hawke por baixo da máscara, que às vezes cobre completamente o rosto, às vezes cobre apenas parcialmente.
Os personagens, na verdade, são a grande força de Telefone Preto. Além do sequestrador, as crianças são pontos elevados. Finney cria identificação com sua resiliência estoica. E a Gwen... que garota maravilhosa! Melhor personagem. Uma das coisas mais legais do filme é que ela sonha como se estivesse vendo um filme caseiro. E ela tem sem dúvida uma das melhores orações pra Jesus da história do cinema.
O Telefone Preto é mais um grandíssimo acerto do Scott Derrickson. Um filme de terror sombrio, com temas extremamente pesados, mas que consegue criar emoção. E a catarse que provoca no final torna tudo ainda melhor. Que filme!
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