Oppenheimer (2023), Christopher Nolan.
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Uma verdadeira odisseia de três horas de duração sobre o homem que arquitetou a bomba atômica lançada sobre Hiroshima e Nagasaki no final da Segunda Guerra Mundial. Eu sou bastante estudioso sobre a Segunda Guerra, um período histórico que sempre me desperta muito interesse, e filmes e histórias sobre essa época sempre me chamam a atenção, mesmo quando o assunto não é sobre a guerra em si, mas sobre os acontecimentos dos bastidores, aqueles momentos que ocorreram longe do campo de batalha e dos holofotes. A Segunda Guerra foi travada em muitas frentes. Oppenheimer se aprofunda em uma dessas frentes de batalha que foi definidora para os rumos da guerra e do próprio mundo que veio depois. Um mundo que, como o próprio filme reforça, poderia ter sido completamente destruído pela bomba atômica.
De certa forma, como mostra Oppenheimer, o mundo foi destruído de alguma maneira depois da guerra, e o que veio depois se transformou em um mundo completamente diferente daquele que existia antes da guerra acontecer. Oppenheimer e sua bomba atômica tiveram um papel relevante nessa mudança/destruição.
O filme é sobre isso. E, principalmente, sobre o homem responsável por isso. A história de Oppenheimer é fortemente explorada por todos os marcos da trajetória dele, por todas as suas falhas e realizações. O filme tem um teor bastante biográfico, uma vez que é baseado na biografia de Oppenheimer lançada em 2005, mas foge completamente do estilo de um drama biográfico padrão. Isso porque este é um filme do Christopher Nolan, e tem totalmente os padrões e estilos de seu idealizador.
Nolan usa as imagens para construir a narrativa e cria dinâmicas diferentes com cortes de cronologia, vai e volta no tempo através de uma edição primorosa e uma cinematografia diferenciada para cada aspecto de sua história, com imagens coloridas e tons quentes para contar a saga de Oppenheimer em busca de construir sua bomba, e sequências em preto e branco para explorar a frieza de intenções do momento posterior à criação da bomba quando Oppenheimer se tornou alvo de interrogatórios e escrutínios públicos que tentavam desacreditá-lo ao mesmo tempo em que ele próprio lidava com o remorso por ter criado a bomba. As diversas tramas vão sendo apresentadas fora de ordem cronológica até culminarem no grande clímax. O filme se aprofunda não apenas em seu personagem principal e nas implicações de seu feito, mas apresenta boas reviravoltas sobre todos os sentimentos de todas as pessoas envolvidas no processo de construção da bomba atômica, na Segunda Guerra Mundial e na própria noção de ser humano e humanidade que estava inevitavelmente atrelada aos questionamentos sobre a criação de uma arma tão poderosa.
Grande parte da narrativa foca justamente no interrogatório que Oppenheimer sofre logo depois da construção da bomba por ele supostamente ter vínculos comunistas. Isso é até certo ponto levado a outro aspecto da vida dele, que é a relação com Jean Tatlock, conhecida por ser ativista comunista e interpretada muito maravilhosamente bem por Florence Pugh, que movimenta bastante a vida emocional de Oppenheimer. Outra personagem extremamente relevante é Kitty Oppenheimer, esposa dele, interpretada também magistralmente por Emily Blunt, e que tem uma das melhores cenas do filme durante o interrogatório em que ela trava um conflito afiado de argumentação e contra-argumentação com o questionável promotor Roger Robb de Jason Clarke.
Outro grande momento do filme, especialmente angustiante, é a contagem regressiva da Trinity, o primeiro teste da bomba atômica. Que cena! E feita sem qualquer CGI, porque Nolan não usou efeitos de computação gráfica para suas cenas.
Como todos os filmes do Nolan, Oppenheimer é muito marcado pela trilha sonora, que se faz presente ao longo de todo o filme, exceto em um único momento perfeitamente providencial. A trilha concede ritmo à história, de tal forma que a gente nem sente passar as três horas de duração. O filme flui muito bem.
A atuação de Cillian Murphy ajuda bastante também, porque ele é excepcional, e consegue captar e expressar todas as nuances de Oppenheimer, todo o drama e todo o aspecto emocional. E ele vem acompanhado por um elenco respeitável, com Robert Downey Jr, Rami Malek, Josh Hartnett, Kenneth Branagh, Casey Affleck, Matt Damon, e Gary Oldman numa cena arrasadora como o Presidente Truman.
Oppenheimer é uma composição e uma sucessão de cenas poderosas e muito bem-feitas. Vale muito por seu aspecto histórico e por seu personagem principal, J. Robert Oppenheimer, o arquiteto da bomba atômica.
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