MaXXXine

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MaXXXine (2024), Ti West.

Ouça sobre o filme: podcast

Um desfecho empolgante para a Trilogia X de Ti West e Mia Goth. O filme é a continuação de X: A Marca da Morte e Pearl, e mostra a personagem principal da Mia Goth, Maxine Minx, depois de ter sobrevivido ao massacre do filme X. Na Hollywood de 1985, Maxine está tentando sair da indústria de filmes pornográficos, onde ela se tornou uma atriz pornô famosa, e consegue um papel num filme de terror tentando despontar na carreira de atriz de cinema. Só que ela começa a ser perseguida por um serial killer.

O filme vai se desenvolvendo ao mostrar Maxine lidando com as complicações de sua situação enquanto ela tenta preservar seu passado oculto. Ao mesmo tempo, ela tenta crescer na carreira de atriz de cinema. Maxine é uma personagem fantástica, muito intensa e envolvente. Gosto muito dela. Mia Goth consegue passar todo o poder de sua personagem e você se pega o tempo todo torcendo por ela, tanto no filme X como agora no filme MaXXXine. O poder da personagem é o que faz o filme.

A atmosfera também contribui bastante. Ti West constrói muito bem a atmosfera de seus filmes e MaXXXine é muito apegado às ideias, à estética e aos estilos da época dos anos 80, especialmente no que diz respeito aos filmes de horror e aos filmes policiais. O filme brinca um pouco com a ideia dos filmes de terror, mas ele foca fortemente nos conceitos por trás dos filmes de serial killer e dos filmes policiais que eram tão comuns nos anos 80. Eu diria que MaXXXine evoca muito dos filmes de Brian De Palma, especialmente Dublê de Corpo e Vestida Para Matar, mas também tem muito do Psicose de Hitchcock, justamente pela maneira como aborda o aspecto do fanatismo e da mente maníaca de um psicopata. Psicose na verdade é uma influência forte em toda a trilogia. Outro aspecto que eu gostei bastante é que tem também um pouco dos filmes de ação da época, como Máquina Mortífera, porque rola até tiroteio e perseguição policial, só que tudo isso encaixado dentro do contexto de horror que o Ti West constrói para a atmosfera do filme.

MaXXXine também trata muito da natureza do mal ao falar sobre fanatismo, tanto o fanatismo religioso quanto o fanatismo na busca por ser uma celebridade e na busca pela fama. Ao mesmo tempo, fala do pânico moral que ocorreu nos Estados Unidos nos anos 80, que era o pânico contra o satanismo. Nos anos 80, muitas histórias começaram a se espalhar sobre cultos satânicos e rituais envolvendo satanismo. As pessoas começaram a ficar com muito medo e isso acabou gerando muitos rumores e muitas informações inverídicas que efetivamente criaram uma histeria coletiva. O pânico sobre o satanismo foi muito forte nos Estados Unidos dos anos 80, mas depois se espalhou pelo mundo e, na época, acabou gerando uma forte perseguição a aspectos culturais que tratavam de ocultismo ou temas mais sombrios, como por exemplo o estilo de música do heavy metal. Alguns filmes da época, como O Bebê de Rosemary, O Exorcista e A Profecia, acabavam inspirando fortemente os medos nas pessoas. E na época ainda era muito forte a presença no imaginário popular do Charles Manson e do culto dele que levaram ao assassinato da Sharon Tate. O caso é bastante conhecido e ficou bastante marcado na época, sendo bastante lembrado até hoje justamente por tratar de elementos como a mente de um psicopata e a natureza do mal.

MaXXXine é muito eficiente ao abordar seus temas e por desenvolver muito bem a história de sua personagem e os desfechos dela. Ao mesmo tempo, o filme faz ótimas referências aos clássicos do passado, mas sem se apegar demais a eles. Ti West é muito eficiente nisso. Ele constrói uma boa atmosfera, com boas referências, e usa bem as suas influências, sem perder a essência. Isso fica claro inclusive numa cena muito importante de perseguição em que a Maxine vai parar na casa do Psicose. Ou numa outra cena muito reveladora que envolve a história da própria Maxine, envolvendo uma cena de X: A Marca da Morte que é um momento televisivo muito pontual. Há ainda a cena excelente dela passando por uma maquiagem onde aos poucos vai se construindo um molde de uma cabeça decepada para o filme de terror que ela vai fazer, e esse molde vai ficando parecido com a personagem Pearl, que é a antagonista dela no filme X e cuja história é contada no filme Pearl. O curioso é que no final de X, a Pearl vira pra Maxine e fala que um dia elas duas seriam parecidas. E o filme MaXXXine brinca com isso de uma maneira sensacional e que me fez gostar ainda mais dele.

Toda a forma como MaXXXine é construído, todos os elementos, todas as referências, toda a brincadeira com o gênero do horror, seus toques de humor sombrio, sua brincadeira com perseguições policiais de filmes de ação dos anos 80, e principalmente sua protagonista Maxine Minx são elementos que fazem o filme funcionar maravilhosamente bem.

MaXXXine é um encerramento excelente para a trilogia construída pelo Ti West. Eu recomendo fortemente, e é facilmente um dos meus filmes de terror favoritos. A trilogia é facilmente uma das minhas trilogias favoritas do cinema. Eu adorei MaXXXine. E adorei mais ainda sua personagem principal. Mia Goth tá de parabéns. Que personagem!