X: A Marca da Morte

X: A Marca da Morte

X: A Marca da Morte

X: A Marca da Morte (2022), Ti West.

Ouça sobre o filme: podcast

Um filme de terror sensacional de Ti West e Mia Goth, que fez bastante sucesso. E eu posso facilmente definir X como um grande filme de terror. Porque é muito bom, é muito bem-feito. A história é sobre um grupo de jovens liderados por um aspirante a cineasta chamado Wayne, que aluga uma casa de hóspedes em uma fazenda distante para gravar um filme pornográfico. O grupo é composto por um garoto cheio de ideias que vai filmar tudo, chamado RJ, e a namorada dele, Lorraine, que é interpretada pela Jenna Ortega e que tem uma reviravolta fantástica na história. Eles são acompanhados também pela stripper Bobby-Lynne e pelo ex-fuzileiro veterano da Guerra do Vietnã, Jackson. Durante as gravações, eles acabam se deparando com um cenário de horror em que precisam lutar por suas vidas.

Uma das grandes sacadas do filme é justamente explorar alguns aspectos da indústria do cinema pornô, especialmente na época dos anos 70, que é muitas vezes referida como a Era de Ouro da Pornografia, quando os filmes pornográficos eram meio clandestinos meio legitimados e começaram a despontar na indústria cinematográfica. Depois, na década de 80, foi quando a pornografia ganhou bastante destaque através do VHS e foi amplamente distribuída, especialmente nas locadoras de vídeo.

O filme vai abordando esses aspectos ao nos apresentar sua principal estrela, Maxine Minx, interpretada maravilhosamente e de forma extremamente envolvente pela Mia Goth. A atriz britânica também é bastante conhecida aqui no Brasil por ser neta da atriz Maria Gladys, que é bastante conhecida pelas novelas e por ter sido uma das grandes atrizes do cinema marginal brasileiro nas décadas de 60 e 70. Gladys participou de filmes como Bonitinha, mas Ordinária; O Anjo Nasceu; Cuidado Madame; Sem Essa, Aranha. O cinema marginal era bastante associado à contracultura e é bastante conhecido pelos seus filmes B que se tornaram cultuados com o passar do tempo. A maneira como Ti West construiu a atmosfera de X me faz lembrar um pouco desse estilo de cinema brasileiro, e me faz lembrar um pouco do cinema dos anos 70 como um todo, o que torna ainda mais especial a participação da Mia Goth no elenco. E eu preciso falar que Maxine Minx é uma personagem sensacional. As reviravoltas dela no filme são sensacionais, especialmente um último momento televisivo do filme, que é bem pontual e bem sensacional na maneira como traz uma revelação sobre ela.

Apesar do tom de homenagem, Ti West muda bastante os padrões e os conceitos clássicos do cinema de terror dos anos 70, especialmente no que diz respeito ao sexo. Porque ao contrário do que era muito comum nos filmes de terror da época, os primeiros personagens a morrer não são os que estão fazendo sexo. O que morre primeiro é justamente o que se mostra mais puritano. E o filme tem muitas influências de grandes nomes do horror e do suspense da época, como George Romero e, especialmente, Hitchcock, porque tem muitos relances de Psicose na história. Só que o que faz X ser tão bom e tão bem dirigido é que o Ti West usa as influências, mas não se apega demais a elas. E o que me deixa tão empolgado é que o filme consegue desconstruir algumas coisas ainda que mantenha a essência dos filmes de terror dos anos 70. Porque sua maior influência é, sem dúvida, Massacre da Serra Elétrica. E o filme brinca com as suas ideias de uma forma maravilhosa. A reviravolta da personagem da Jenna Ortega é um exemplo disso, e é uma das coisas mais fantásticas da história.

Cabe também mencionar a forma como o filme é editado, as brincadeiras que a edição usa para criar tensão e a maneira como as cenas são construídas. A atmosfera é construída de uma forma extremamente macabra e bizarra, apesar de às vezes ter até um tom cômico, ter um certo humor sombrio por trás da narrativa e da forma como os personagens se comportam naquele contexto em que eles estão inseridos: de estarem fazendo um filme pornô numa fazenda distante onde vivem apenas dois velhinhos extremamente estranhos e bizarros.

Eu preciso falar também sobre a cena da Mia Goth no lago, que é uma cena fantástica, extremamente tensa, que constrói sua tensão aos poucos e deixa bem claro o nível de tensão que o filme está disposto a apresentar. A maneira como a cena é construída, a tomada panorâmica, todo desenrolar e a forma como a cena facilmente termina... que cena! Essa cena do lago me fez gostar ainda mais do filme, assim como todo o desenvolvimento do terror de maneira geral. Fiquei muito empolgado. Já assisti ao filme algumas vezes. Realmente é um dos melhores filmes lançados nos últimos anos e um dos grandes filmes de terror que temos disponíveis atualmente.

O casal de velhinhos bizarros da fazenda, inclusive, tem relevância para o próximo filme, que é uma prequel e uma continuação indireta de X, chamado Pearl, também lançado em 2022. A continuação direta de X é Maxxxine, lançado agora em 2024.

X: A Marca da Morte é um filme de terror sensacional, com uma vibe retrô maravilhosa, que brinca completamente com os estereótipos e os padrões dos filmes de terror da antiga, que é extremamente eficiente com suas reviravoltas e surpresas, e que tem um banho de sangue espetacular. Um filme maravilhoso e divertido de uma forma extremamente bizarra. Eu gostei pra caramba e é facilmente um dos meus favoritos. Recomendo muito.