Pearl

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Pearl (2022), Ti West.

Ouça sobre o filme: podcast

Uma continuação poderosa do filme X: A Marca da Morte, novamente dirigido por Ti West e protagonizado pela atriz britânica Mia Goth. O filme na verdade é uma prequel, funcionando mais como uma continuação indireta do filme anterior (como se fosse um flashback). A história também se passa no Texas, na mesma fazenda do filme X, só que em 1918. A personagem principal, Pearl, cresceu na fazenda com sua família, tendo que cuidar do pai doente e constantemente em conflito com a mãe opressiva enquanto espera pelo retorno do marido, Howard, que nós já conhecemos do filme X e que aqui está lutando na Primeira Guerra Mundial. Pearl sonha em ser uma estrela de cinema, em sair de casa e viver a vida para alcançar seus sonhos, só que precisa lidar com as dificuldades de sua vida na fazenda e todas as questões envolvendo os conflitos com a mãe. De vez em quando, ela ainda demonstra alguns belos rompantes de violência, o que aos poucos vai sendo construído dentro da história e é o que torna esse filme tão tenso, especialmente considerando que nós já sabemos o desenrolar dos fatos por causa do primeiro filme.

Uma coisa fantástica é que nos créditos finais do filme anterior nós descobrimos que a Mia Goth estava interpretando tanto a Maxine quanto a Pearl, uma interpretação tão boa e tão impactante que é difícil saber que as duas personagens são interpretadas pela mesma pessoa sem ter um conhecimento prévio sobre isso ou sem ver a descrição de elenco nos créditos finais. Cabe mencionar que o Ti West e a Mia Goth escreveram o filme Pearl juntos com base nas ideias que eles tinham para o desenvolvimento dessa história, que vai culminar no terceiro filme, Maxxxine, sendo que o terceiro filme já é uma continuação direta do primeiro ao mostrar o que aconteceu com a nossa final girl Maxine Minx depois que ela sobreviveu aos eventos de X: A Marca da Morte.

Pearl, aliás, continua a ter muitas influências de Massacre da Serra Elétrica e, especialmente, Hitchcock. Eu diria que aqui a influência do Hitchcock é muito maior, porque esse filme tem muitos relances de Psicose. Esse é muito mais um filme sobre o desenvolvimento e o crescimento de um assassino, especialmente pela forma como nós somos inseridos na mente extremamente maníaca da personagem principal. É muito bom como aos poucos ela vai dando relances de quem ela é e de onde ela vai acabar chegando, especialmente considerando que a gente já sabe o tipo de personagem que a Pearl é por causa dos eventos do primeiro filme.

Toda a vibe retrô que o Ti West gosta de aplicar na atmosfera de seus filmes continua em Pearl, com toques bastante macabros de toda a insanidade que orbita o filme o tempo todo. Incluindo aí os relances que o filme faz para os elementos de terror e sexo do filme anterior. Isso é especialmente presente na cena em que o projecionista do cinema apresenta um filme pornô (ou o que seria o protótipo de um filme pornô) para a personagem, no que é basicamente uma piscadinha para o filme X.

Cabe destacar também algumas cenas bizarras da história, como a cena do espantalho ou a cena da perseguição com o machado que é uma cena fantástica de boa. A cena do machado, na real, pela maneira como foi construída e pela maneira como foi filmada e pela maneira como termina, tá ali no mesmo páreo da cena do lago do primeiro filme com a Mia Goth e o jacaré. E há ainda os créditos finais com o sorriso extremamente enervante da Pearl, em que a Mia Goss demonstra todo o poder dela para o terror. Porque, caramba, que mulher fantástica de angustiante e assustadora! Ela não só assusta. Com Pearl, ela mostra que é uma atriz completa e extremamente eficiente no trabalho. Goth é boa também com os trejeitos, na maneira como dança, como cria a sua personagem e os movimentos dela. A atriz faz sua performance de uma maneira extremamente minuciosa e impactante, seja nos momentos mais simples, seja quando está matando alguém. E a cena do monólogo que ela faz para o marido ausente é outro exemplo da qualidade da Mia Goth como atriz, porque é uma cena muito boa, extremamente emocionante e extremamente tensa de uma maneira estranhamente envolvente. Mia Goth é uma grande atriz, que me cativou totalmente com esse filme. Em grande parte, ela é a razão para esse filme ser tão bom, porque a Pearl é uma personagem bizarra e ao mesmo tempo envolvente.

Cabe o mérito também para o Ti West por mais uma vez demonstrar uma direção eficiente e uma edição que favorece muito o terror da história. Pearl é um filme de terror muito bom e um excelente complemento para o filme X: A Marca da Morte. Recomendo fortemente.