Manas (2024), Marianna Brennand Fortes.
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Um filme tenso que fala de um tema bastante delicado, inspirado nos casos de exploração sexual infantil da Ilha de Marajó, no Pará. Manas conquistou muitos elogios e ganhou vários prêmios em festivais. Dirigido por Marianna Brennand, conta a história de Marcielle, maravilhosamente interpretada por Jamilli Correa, que vive em uma comunidade ribeirinha na Ilha de Marajó e vende açaí na balsa que transita pela região. Ela leva uma vida bastante simples e precária, vivendo com a família num lugar pequeno e frequentemente tendo problemas para colocar comida na mesa. Tudo piora quando ela começa a sofrer com abusos e assédios tanto fora quanto dentro de casa.
Manas é uma história sobre violência e isso fica claro o tempo inteiro. Mas, ao mesmo tempo, é um filme que sabe tratar sua história de maneira bastante respeitosa e delicada. Em nenhum momento, o filme é explícito. A violência é mostrada de maneira estilizada e não é gráfica, o que, na verdade, só aumenta o suspense e o impacto de sua história. É justamente na sutileza de como a violência é tratada, e na maneira muitas vezes permissiva como ela é encarada, que o filme ganha sua força ao demonstrar a crueldade da situação e, principalmente, as negligências que levam ao assédio e ao abuso sexual de crianças. A história aborda questões como a própria ignorância das garotas sobre si mesmas e suas possibilidades, a falta de oportunidades que leva a diversas situações degradantes e o fator, também muito presente no filme, do conservadorismo religioso. Tudo isso é muito bem contado e muito bem filmado pela Marianna Brennand, que constrói uma narrativa de muito impacto e profundidade.
O filme ainda é bastante favorecido por seu elenco. A estreante Jamilli Correa é impressionante no papel da Marcielle. Rômulo Braga e Fátima Macedo, interpretando os pais de Marcielle, são um contraste entre a questão da violência em casa e a permissividade tóxica, fazendo o contraponto com a policial Aretha da atriz Dira Paes, uma personagem inspirada em pessoas reais relacionadas ao combate da exploração infantil em Marajó. Aretha é uma das personagens centrais na história, porque trabalha junto com Marcielle em todo o contexto. Além disso, é a Dira Paes. Ela é uma das minhas atrizes favoritas do cinema brasileiro e é sempre uma grande presença em cena. Aqui não é diferente. A história vai ganhando força à medida que evolui e seu final é inesperado e poderoso, de uma forma muito boa e que faz o filme ainda maior. Por isso, recomendo fortemente. Manas é um filme grandioso e sensível sobre um tema extremamente relevante.
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