Bleach terminou. Não é um final definitivo, mas o final de uma saga… praticamente uma era. O anime estreou em 2004 e lá se foram sete anos e 310 episódios de espera pela conclusão de uma história que aparentemente nunca encontraria um fim. O mangá tem ainda mais tempo de história, já tendo superado a marca das 430 edições. Para alguns, foi uma mistura de tristeza e saudade. Para outros, raiva e frustração. Bleach sempre foi um anime polêmico e neste encerramento não poderia ser diferente. De fato, depois de tantos fillers e tantos episódios, tivemos um bom final de saga, mas com um gostinho amargo de que ficou faltando alguma coisa. Muitas pontas ficaram soltas — pontas até demais —, e o grande vilão da história foi simplesmente preservado ao invés de definitivamente destruído. Por quê?!
Não me entendam mal… eu gostei deste final, mas também admito que já estou condicionado a gostar de Bleach depois de anos acompanhando a série como uma das melhores da atualidade (afinal, os animes lançados ultimamente andam meio fraquinhos). Mas, Bleach não está isento de falhas. E admito que elas são muitas. Neste final, elas parecem ainda mais evidentes.
O maior problema é a variação óbvia na qualidade narrativa. Como eu disse, foram anos e anos de história e, do nada, acabou. Os arcos de diálogos, história e humor sempre foram um ponto alto em Bleach, mas nas últimas sagas foram muito suplantados pelos combates. Logo, muitas falas e sequências tornaram-se desnecessárias e vazias. Um dos principais motivos, acredito que sejam as lutas. Adoro a ação de Bleach, pois é dinâmica e fluída e foi o que me fez gostar do anime no começo. As lutas aconteciam de forma rápida e não prendiam muito a história, mesmo quando vários combates paralelos aconteciam simultaneamente. A Saga da Soul Society é foda por causa disto. Porém, depois do início da Saga dos Arrankars, dois problemas apareceram. Os fillers se tornaram massivos (e chatos, como sempre) e as lutas começaram a se estender demais; eram episódios e mais episódios intermináveis de lutas que, tomando como base o final da saga, acrescentaram muito pouco à série. As lutas do Ichigo foram as mais relevantes, pois impulsionavam o personagem em direção ao amadurecimento necessário para enfrentar o verdadeiro inimigo, Aizen. Seus confrontos contra Grimmjow e, principalmente, Ulquiorra foram muito bons. Outros embates, como Rukia e Aaroniero, também foram interessantes e trouxeram alguns esclarecimentos. Todavia, a maioria das lutas foi mal aproveitada. Ishida, Renji e depois Kurotsuchi contra Szayel-Aporro foi um combate longo, chato e inútil. Byakuya contra Zommarie serviu só para mostra o quanto o capitão é poderoso (o que já estamos cansados de saber). Nnoitra apenas favoreceu o reaparecimento da Neliel como uma espada. Aliás, a própria Nell é um exemplo de desperdício; ela é uma das personagens mais legais da saga, mas durou alguns minutos como uma espada fodona, invocou sua ressurrécion, lutou, voltou ao normal e se perdeu para sempre no limbo da série. Depois disso, Zaraki apareceu para enfrentar Nnoitra, a luta acabou e ele partiu para enfrentar Yammy. A luta de Zaraki contra Yammy também se mostrou irrelevante quando terminou do nada simplesmente para Zaraki e Byakuya se enfrentarem num combate igualmente iniciado do nada e por razões idiotas — um combate que também ficou por isso mesmo, já que no final eles aparecem de volta a Soul Society como se nada tivesse acontecido e com Yammy ainda vivo no Hueco Mundo. Haja enrolação! Por fim, cito os confrontos do Mundo Real, uma sucessão de lutas que não levaram a lugar algum e só serviram para prolongar ainda mais a saga e dar alguma finalidade para personagens introduzidos na série sem função real — como os Vaizards. No final das contas, os últimos três espadas foram facilmente derrotados (Stark, tadinho, nem sequer serviu para o Shunsui mostrar o bankai dele) e Aizen, praticamente um deus, desceu o cacete em TODOS os personagens que apareceram na frente dele. Tudo para terminar aprisionado num kidou de espinhos e enviado para a prisão.
O caso de Aizen, no entanto, merece considerações a parte. O embate final dele contra Ichigo foi, sem dúvida, um dos melhores da série, justamente porque recuperou um pouco do glamour que as cenas de ação tinham no começo do anime, como eu citei anteriormente. Foi uma luta rápida, overpower, empolgante e coroada com um poder bonito de se ver — Mugetsu. Aizen foi, sem dúvida, o cara que movimentou o anime. A Saga da Soul Society não foi foda só por causa das lutas ágeis, mas também pela intriga e manipulação empregadas pelo vilão. O mistério criado em torno de sua suposta morte e a revelação inesperada de seus planos deram sabor à história e marcaram Bleach como um dos meus animes preferidos. Então, chegou a hora dele ser punido. E ele é simplesmente aprisionado. Tudo bem que ele se tornou imortal, mas, sinceramente, é estranho. Quando a Rukia foi aprisionada na Saga da Soul Society, ela foi direto condenada a execução; embora fosse tudo uma armação, ainda era uma lei sendo aplicada. Aizen foi simplesmente julgado e enviado para uma prisão, um recurso narrativo que só me faz crer numa coisa: Aizen vai voltar no futuro! Uma consideração ainda mais válida se avaliarmos a conversa final entre Aizen e Urahara quando o vilão estava sendo selado: — Como toda a sua inteligência, por que não faz nada? Por que se subjuga a Ele (se referindo ao Rei Espiritual) ? — pergunta Aizen; — Entendo, você também viu, não é mesmo? — considera Urahara. É um cliffhanger absurdo, com o objetivo nítido de criar perguntas a serem respondidas futuramente. Afinal, o que Aizen e Urahara viram? O que é todo este mistério ao redor do Rei Espiritual? Sem dúvida, são argumentos para uma possível saga envolvendo o Rei Espiritual, lembrando que existe ainda outro ponto em aberto: a shinigami Hikifune Kirio e o Esquadrão Zero, que não acho que foram mencionados na Saga do Retorno do Pêndulo em vão.
O final, no entanto, teve vislumbres do Bleach em início de carreira, principalmente na questão do humor. Foi realmente impagável assistir ao esporro dado pelo Comandante Genryuusai em Shunsui, Byakuya e Zaraki simplesmente porque eles perderão o sobretudo de capitão. A cara de descaso que eles fazem e suas respostas safadas são de cair na gargalhada, especialmente o Byakuya falando que o sobretudo é uma “roupa barata” e o Shunsui dizendo que é um “acessório fashion”. Foi bom ver um pouco do humor despretensioso de volta a série.
Para concluir são apresentados os desfechos (ainda que com ganchos) de alguns personagens. Ficamos sabendo que Hinamori está em tratamento para recuperar os órgãos perdidos na batalha. Hitsugaya está treinando exaustivamente para proteger Hinamori com mais eficiência, já que ele próprio quase avabou com a vida dela. Rangiku se despedindo (ou não) de Gin. E o grupo de amigos se reunindo ao redor de Ichigo para fechar o ciclo da saga que moveu todo o anime até agora. Foram momentos bonitos, mas que ainda passam uma sensação estranha. Mais uma vez, as relações entre os casais da série são explicitadas, mas pouco exploradas. No anime, diferente do que aconteceu no mangá, a relação entre Ichigo e Rukia foi simplesmente esquecida. No mangá, pelo menos, rola uma cena final mais emotiva entre eles, enquanto no anime, nem uma troca de olhares. Muito sem graça. Já Rangiku e Gin continuam uma incógnita e, para piorar, não somos esclarecidos se Gin morreu ou não — o que é uma tortura! Eu espero que ele ainda esteja vivo, porque é um personagem maneiro. Também espero que a Rangiku ganhe mais destaque e poder a partir de agora; existem vários cargos vazios no Gotei 13 que precisam ser preenchidos e seria legal ver a Rangiku desenvolvendo o bankai e tornando-se uma capitã. Tudo bem que temos o Renji e o Ikaku com o bankai que podem futuramente assumir como capitães. Mas o Ikaku não tem interesse, então, é uma possibilidade para a Rangiku. Convenhamos que a Rangiku é uma das personagens com mais destaque e mais radiante da série (não me refiro aos peitões) e seria legal vê-la com uma estrela própria ao invés de simplesmente servir como alívio cômico ou trampolim para o personagem Hitsugaya. Só a sua história, conduzida de uma forma mais séria, já agregaria muito conteúdo para o anime.
Enfim, escrevi e especulei bastante. Sempre acontece quando resolvo escrever sobre Bleach. Foi um balanço da minha percepção sobre o encerramento, mas também da série como um todo depois deste final… que não é bem um final, eu sei. Apesar das críticas, não mudei minha opinião sobre o Bleach. Continua sendo um dos melhores animes que já assisti e uma das melhores histórias que já pude acompanhar. Tem seus altos e tem seus baixos, mas consegue ser emocionante mesmo depois de tantos episódios. O autor, Tite Kubo, deseja continuar a série durante mais 10 anos ainda e não vejo problema nisto. Ainda há muito para contar. Só espero que, a partir de agora, Bleach seja capaz de se desconstruir e se renovar. Não é fácil manter o ritmo depois de tanto tempo, mas Bleach tem potencial e pode melhorar ainda mais. Espero ver os diálogos, as intrigas, o mistério e o humor que me atraíram para a série lá no começo, sem lutas ou sagas desnecessárias. No anime, ainda vamos ter que aturar fillers, mas no mangá, um novo arco, com novos personagens, se iniciou e confesso que está me agradando. Torço para que minhas esperanças se concretizem e já vejo possibilidades neste recomeço. De qualquer forma, vou continuar acompanhando, lendo e assistindo até o dia do verdadeiro final. Bleach vale a pena.
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