Evangelion: 1.11 You Are (Not) Alone

Evangelion 1.11

Evangelion 1.11

Evangelion: 1.11 You Are (Not) Alone (2007), Hideaki Anno.

Rebuild of Evangelion (Evangelion Shin Gekijoban) é o nome do projeto concebido para reapresentar a série Neon Genesis Evangelion em quatro filmes, mostrando uma versão alternativa da série de TV, com novas cenas, novos personagens, nova direção da história e novo final. Algumas cenas icônicas foram recriadas, mas com melhor projeto visual, incluindo animações em computação gráfica, e várias cenas de luta também foram recriadas. Alguns anjos também sofreram alterações em suas aparências.

Evangelion: 1.11 You Are (Not) Alone é o primeiro filme da tetralogia, lançado nos cinemas japoneses como Evangelion: 1.0, e basicamente funciona como um remake (ou rebuild, se você preferir) que engloba os seis primeiros episódios da série de TV. Ainda que seja um remake, já são apresentadas algumas novidades no enredo que refletem as mudanças do Rebuild of Evangelion para a versão original. Mas também existem mudanças conceituais. A série era bastante famosa por guardar seus segredos sobre o que estava realmente acontecendo, sem fornecer grandes explicações — uma forma de contar histórias bem comum entre os japoneses. O filme assume um padrão mais norte-americano, revela bastante e explica bastante sobre as coisas.

O enredo do filme é basicamente o mesmo da série: se passa no ano de 2015, quinze anos depois que o planeta foi devastado por um cataclismo chamado Segundo Impacto — o primeiro é o meteoro que aniquilou os dinossauros. A humanidade enfrenta a ameaça de criaturas gigantes misteriosas chamadas de Anjos — no original, Shitos. Para combater essa ameaça, nasceu a organização paramilitar conhecida como Nerv, cujos membros são responsáveis pela construção e operação dos robôs gigantes Evangelions. Os Evas são pilotados por crianças na faixa dos 14 anos, que precisam arcar com essa imensa responsabilidade.

Shinji Ikari e Rey Ayanami são dois desses pilotos, e o filme foca basicamente neles. Outros personagens com mais relevância são Gendo Ikari, pai de Shinji e comandante supremo da Nerv, e Misato Katsuragi, chefe de operações estratégicas da Nerv que se torna tutora de Shinji.

Evangelion: 1.11 é mais linear e focado que a série, e desde o início fica claro que Gendo tem um plano que envolve Rei e Shinji, sendo que ele trata Rei como filha, enquanto Shinji é tratado com indiferença ou mesmo desprezo. Os relacionamentos também recebem mais foco, assim como essas relações são vistas por pessoas de fora, e como as relações dessas pessoas de fora acabam espelhadas pelas relações dos outros. Por exemplo, as comparações entre a relação de Misato com o pai e a relação de Shinji com o dele. Não é tão diferente da série, apenas mais focado, e razoavelmente mais óbvio. É mais evidente que Gendo sabe como seu filho vai agir, porque ele precisa que Shinji tome certas atitudes para que seu plano se concretize. A atração entre Shinji e Rei também é um pouco mais explícita do que era na série.

As pessoas do filme, ao contrário do que acontecia na série, parecem saber que o Segundo Impacto foi causado por um Anjo, não por um meteoro. Misato sabe sobre a existência de Lilith, e que se os Anjos entrarem em contato com ela, isso poderia causar um Terceiro Impacto — ideias que só são mencionadas na série lá para o final. Misato, na verdade, parece saber mais sobre o acontece na Nerv, e a humanidade parece saber mais sobre os Anjos. Os objetivos da Seele são mais explícitos no que diz respeito aos Pergaminhos do Mar Morto, assim como as questões religiosas são mais exaltadas, com as revelações de que os Anjos que se alimentaram da Árvore da Vida desejam destruir aqueles que se alimentaram da Árvore do Conhecimento (os humanos). As questões religiosas tornam-se mais fortes no filme do que eram na série, enquanto as questões psicológicas e filosóficas são mais sutis do que eram na série. Essas são impressões causadas pela forma como a história é contada — e condensada.

O filme, no entanto, perdeu um pouco da tensão e do suspense, justamente por ter se tornado mais linear. Por exemplo, a primeira batalha de Shinji pilotando o Eva 01, aqui, é apresentada em tempo real, na ordem cronológica, enquanto na série víamos primeiro o resultado da batalha antes de vermos realmente o que tinha acontecido — e isso tirou um pouco da tensão da sequência. Os personagens coadjuvantes, como os amigos de Shinji, são praticamente esquecidos no filme. Na série, eles eram uma parte importante do desenvolvimento da personalidade complexa de Shinji, mas no filme, sem eles, Shinji torna-se um personagem que parece incompleto. E isso é complicado porque, aqui, Shinji é o grande centro do enredo. Ele era o centro na série, mas isso era tratado de forma mais sutil. No filme, como tudo é mais condensado, ele acaba se tornando o foco principal e se sobrepõe aos outros personagens. A trilha sonora do filme também não é tão impactante nas cenas como antes. Por outro lado, a canção nova dos créditos finais, Beautiful World, de Hikaru Utada, é bonita.

A batalha final do filme contra o Anjo Ramiel é mais épica e impressionante, e a música dessa cena ajuda bastante em criar o clima de epicidade. O Anjo também recebeu um tratamento diferente, e ao invés de ser um octaedro espelhado flutuante, agora ele muda para várias formas estranhas cada vez que ataca ou se defende, aumentando o impacto visual da cena e a grandiosidade do combate… É bem foda!

Evangelion: 1.11 You Are (Not) Alone, no geral, é um bom filme e um remake interessante da série, ainda que crie um conceito um pouco diferente daquele que foi apresentado originalmente por Hideaki Anno. Para aqueles que nunca viram a série, também é uma forma de introduzir novos espectadores no universo de Evangelion, embora, claro, não deva ser a única forma. Sempre recomendo assistir à série, SEMPRE! Vale a pena ver a série e depois o filme, ou vice-versa. Neon Genesis Evangelion é um marco na história dos animes, e merece ser visto, assim como essa sua nova reconstrução.