Evangelion: 3.33 You Can (Not) Redo (2012), Hideaki Anno.
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Um filme difícil de descrever e absorver, e isso é uma coisa boa. A premissa básica do projeto Rebuild of Evangelion (Evangelion Shin Gekijoban) quando foi lançado era que os dois primeiros filmes contariam histórias aproximadas à série original e, a partir do terceiro, a história tomaria novos rumos. Portanto, era de se esperar que Evangelion: 3.33 fosse tão diferente em termos de enredo, mas é muito mais diferente do que se esperava. É diferente inclusive dos dois filmes anteriores. E esse é provavelmente seu maior trunfo.
O filme é ousado por mudar drasticamente o mundo estabelecido na série original e nos filmes anteriores. É um mundo novo, devastado, que promete exploração e progresso. E a promessa é explorada com sutileza. Evangelion nunca foi de explicar muito e Evangelion: 3.33 é meio assim. Às vezes dá certo, às vezes não, mas no geral, as coisas funcionam adequadamente. E o início já é bastante frenético, sem muitas explicações ou preocupações, apenas cenas de ação empolgantes uma atrás da outra. Uma sucessão de batalhas ferozes e acontecimentos absurdamente rápidos. A animação é fantástica!
A abertura com Asuka e Mari resgatando o Eva Unidade 01 no espaço é uma boa introdução para o filme. E eu vibrei nas cenas, porque eu adoro a Asuka, e é ela, com um tapa-olho, mais espetacular do que nunca.
Depois da abertura poderosa, somos levados à nave Wille. A história se passa 14 anos depois do segundo filme e Shinji ficou todo este tempo aprisionado dentro do Eva 01, num estado de hibernação. Ele acorda desorientado e se depara com Misato, que agora é a Coronel Misato Katsuragi, comandante da organização Anti-Nerv. E ela o trata com frieza, o que gera uma situação arrastada para a história durante um tempo. Shinji, inseguro como sempre, acaba tomando a atitude errada que leva ao resto do enredo.
Hideaki Anno optou claramente por usar um estereótipo, trabalhando com um herói que, sem conhecer todos os fatos, se junta aos inimigos sem saber que eles são os vilões da história. Isso é bom porque mostra as motivações dos vilões mais de perto, ultrapassando o maniqueísmo básico. A tendência a um comportamento passivo-agressivo dos personagens às vezes trava o andamento das coisas, mas a trama vai fluindo.
Asuka, Misato e Mari tem desenvolvimentos menores, o que é uma pena considerando o grande potencial das personagens, especialmente Mari que é uma personagem nova e acaba a maior parte do tempo sendo apenas sidekick de Asuka. Mas eu gostei da Mari e da dinâmica dela com a Asuka. As duas juntas são maneiras.
Os personagens com maior desenvolvimento são Shinji, Rei e Kaworu. Explorado apenas superficialmente na série de TV, Kaworu Nagisa ganha mais contornos aqui, e é definitivamente a melhor parte do filme. A relação de Kaworu e Shinji é gradual e convincente, estimulada pela vivacidade da música e do dueto que os dois formam no piano — e depois, para pilotar um Eva de entrada dupla: a Unidade 13.
O cenário se torna mais intimidador nesse ponto, de aspecto avermelhado e frívolo, como se o mundo estivesse banhado em sangue. E isso tem muito a ver com Shinji e com as escolhas dele desde o segundo filme até aqui. As relações e acontecimento tem um impacto apocalíptico e emocionante, que engrandecem o filme. O final, contudo, deixa um monte de perguntas em aberto para o quarto (e último) filme.
Leia mais sobre o anime aqui. E para conhecer mais sobre os filmes Rebuild of Evangelion, que recontam a história do anime, leia aqui ou aqui ou aqui.
Evangelion: 3.33 You Can (Not) Redo é bom porque (Não) é nada daquilo que imaginávamos que poderia ser, e isso é bom. Hideaki Anno conseguiu reconstruir seu universo de tal forma que devastou (literalmente) os padrões estabelecidos anteriormente pela série, e nos obrigou a sair da zona de conforto. Uma qualidade de Evangelion sempre foi estimular a contradição e o questionamento. Evangelion: 3.33 não apenas reconstruiu, mas desconstruiu tudo o que sabíamos sobre Evangelion. Eu confesso que estranhei no início, mas adorei a surpresa. Gostei de me sentir surpreendido e, principalmente, gostei de sentir que houve alguma renovação. Se é para fazer algo novo e diferente, que seja algo realmente novo e diferente. E este terceiro filme é isso. Uma experiência completamente nova.
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