Evangelion: 2.22 You Can (Not) Advance

Evangelion 2.22

Evangelion 2.22

Evangelion: 2.22 You Can (Not) Advance (2009), Hideaki Anno.

Evangelion: 1.11 era basicamente um remake da série original com o acréscimo de algumas novidades no enredo. Mas o segundo filme da tetralogia Rebuild of Evangelion (Evangelion Shin Gekijoban) mostra mudanças consideráveis logo nas primeiras cenas. De fato, esse é o filme que começa a efetivamente reconstruir a mitologia de Neon Genesis Evangelion e direciona a história para um novo caminho.

Evangelion: 2.22 You Can (Not) Advance se desenvolve em cima do que faltou no primeiro filme, tanto em termos de história, que é bem mais dinâmica e surpreendente, quanto na questão dos personagens, cujas relações são mais aprofundadas e envolventes. Posso dizer ainda que Evangelion: 2.22 é a melhor adição cinematográfica ao universo desde The End of Evangelion. O filme é incrível, divertido, trágico, cheio de ação e muito foda!

O ritmo da trama é ágil, oscilando entre momentos de narrativa e sequências de batalhas de forma rápida e certeira. De vez em quando, temos breves interlúdios que mostram a vida cotidiana em Tóquio 3, e somos maravilhosamente inseridos na vida daquelas pessoas que precisam conviver e sobreviver todos os dias aos combates entre robôs gigantes e monstros grotescos. Ao mesmo tempo, vemos o quão corriqueiro se tornou aquela realidade trágica. O desenvolvimento do ponto de vista do povo é uma adição valiosa, já que na série original não víamos realmente como a existência de robôs e monstros gigantes afetava a vida das pessoas normais. Além disso, os efeitos visuais aprimorados oferecem uma visão ESPETACULAR da cidade e suas mudanças para se tornar uma arena de batalha para os Evas.

Os personagens também progridem bastante, individualmente e socialmente, com relações bem delineadas. A principal evolução é Shinji Ikari, o protagonista. Nesse filme, ele mostra-se explicitamente como protagonista, e sabe o que quer fazer, não apenas o que precisa fazer. Por um lado, Shinji se torna um personagem mais básico, com caráter de herói que deseja salvar a mocinha por quem está apaixonado. Por outro, Shinji se torna um personagem mais decidido e vívido, diferente daquela apatia irritante na série original.

A mudança em Shinji se reflete e é refletida nas mudanças de Rei e Asuka, que são personagens muito diferentes de suas versões anteriores. Rei Ayanami não é mais tanto uma bonequinha de porcelana sem vontade, embora ainda seja um fanservice do anime. Agora, ela tem mais contornos e emoções, e tem uma relação romântica mais explícita com Shinji, algo que na série ficava bastante implícito. Shinji e Rei juntos se tornam personagens com mais força de vontade, e conseguem dar mais vazão às suas emoções. Assim como acontecia no Evangelion: 1.11, as profundidades psicológicas das relações interpessoais são pouco exploradas e, de fato, não parecem ser o foco dessa nova versão da história.

Asuka sofreu as alterações drásticas, a começar pelo fato de que não se chama Asuka Langley Soryu, mas Asuka Langley Shikinami. Ela ainda é piloto do Eva Unidade 02, mas agora capitã da Força Aérea Europeia. Asuka é uma guerreira poderosa e tem muito mais força de personalidade do que a versão da série. Antes ela era uma personagem poderosa, mas insegura e desesperada para chamar a atenção dos outros para si. Agora, Asuka é apenas muito fodona e é isso! Ela ainda é uma adolescente prodígio e precisa lidar com a responsabilidade excessiva que carrega sobre os ombros, mas enfrenta isso como mais sobriedade do que antes. A cena em que Asuka se deita ao lado de Shinji na cama é muito mais encantadora no filme do que era na série, e evidencia mais o reconhecimento que ela sente por ele. A escolha envolvendo o teste do Eva Unidade 03 amplifica o laço emocional que existe entre esses dois, e se mostra uma mudança essencial para o universo que está sendo construído com esses filmes em relação ao que era na série.

Shinji, Asuka e Rei ainda são os mesmos personagens, só que com motivações diferentes, e o resultado destas mudanças mostra-se inicialmente interessante. A nova adição ao elenco, Mari Illustrious Makinami, é intrigante, ainda que possua pouco tempo de cena. A abertura, com Mari pilotando o Eva Unidade 05, é um prólogo impressionante, e já revela a personagem em grande estilo. Mari é inicialmente uma personagem criada pelo fanservice e provavelmente para vender brinquedos, mas ainda assim, é uma novidade rejuvenescedora para um universo já tão conhecido.

Outro ponto forte é o nível de produção melhorado em relação à série e ao próprio Evangelion: 1.11. O design dos personagens nem sempre é atraente ou claro, mas eles são únicos e ricos em detalhes. Os Evas transmitem mais sensação de peso e suas ações são mais graves e contundentes, especialmente quando as máquinas assumem características bestiais e oferecem espetáculos grotescos de brutalidade. A trilha sonora às vezes enfraquece as sequências mais violentas, um problema que parece ser constante nesses filmes do Rebuild of Evangelion.

Evangelion: 2.22 You Can (Not) Advance, como evolução da franquia Rebuild of Evangelion e do próprio universo de Evangelion, é um grande filme, que consegue se manter fiel ao espírito da série original, enquanto constrói um novo caminho a seguir. O filme, diferente da série, não esconde suas emoções sob camadas e mais camadas de angústia, mas ainda trata da mesma questão: as emoções humanas. Agora, de uma forma mais leve, menos pessimista, e ainda assim, com doses de suspense, violência e sangue.