Drácula

Drácula

Drácula

Drácula (1931), Tod Browning.

O filme de 1931, Drácula, é um dos grandes clássicos de monstros da Universal do cinema, e deve-se considerar que também é um fruto de sua época. Possui erros de continuidade, ritmo truncado e é exageradamente (às vezes ridiculamente) teatral. Mas também sabe construir sua atmosfera, é sombrio em sua frieza preto e branca e conta com uma das performances mais influentes e replicadas na história do cinema.

Baseado mais na adaptação para o teatro por John L. Balderston e Hamilton Deane do que no romance original de Bram Stoker, a história por trás de Drácula é quase tão interessante quanto o próprio filme. Bela Lugosi era na verdade a última escolha do estúdio para o papel-título; a primeira escolha, Lon Chaney, morreu inesperadamente de câncer antes do início da produção. Lugosi, inclusive, recebeu um cachê de US $ 500 por semana pelo papel, apenas uma fração do que David Manners recebeu por seu papel como John Harker.

No comando do filme, o diretor Tod Browning ainda não estava acostumado a dirigir filmes falados e o diretor de fotografia Karl Freund dirigiu todas as suas cenas. À noite, as gravações seriam assumidas por uma equipe separada para produzir uma versão em espanhol do filme. E além dessa versão em língua espanhola, uma edição silenciosa estava sendo preparada para uma versão teatral sem som.

Dada toda a complicação por trás das cenas, não é realmente uma surpresa que o resultado seja tão instável. Drácula pode ser dividido entre o fluido e enérgico primeiro ato e o arrastado melodrama que compõe o resto do filme. Embora não haja registro de quando Browning estava no controle e quando – ou se – Freund tinha o comando, não é difícil acreditar que mudanças aconteceram durante as filmagens. Há cenas desengonçadas em que a câmera parece presa ao chão, cenas em que a câmera ocasionalmente seguia os personagens para mantê-los no quadro. Há também partes do filme que são emocionantes e dinâmicas, com câmeras móveis e tomadas inovadoras (incluindo uma sequência de ponto de vista com uma visão horrenda da desgraça vista apenas na sombra), bem como os esforços de direção creditados à Freund no gênero horror, como A Múmia, que poderíamos inclusive considerar uma refilmagem mais dramaticamente bem-sucedida de Drácula.

Frye como Renfield começa no filme no estilo típico e exagerado dos primeiros filmes falados, e sua transformação em servo enlouquecido de Drácula é uma grande revelação. Sua risada maníaca é medonha. Sua vacilação entre servir seu mestre e salvar os outros do monstro é ocasionalmente histérica, mas convincente.

O próprio Lugosi, claro, é o grande responsável pela força histórica que Drácula conquistou. Este é provavelmente o desempenho de sua vida. Sua estranha pronúncia fonética dos diálogos é arrepiante em sua estranheza. Ele é dono de uma presença impressionante sobre qualquer lugar em que entra, inclusive em nossas imaginações. Lugosi realmente é o ser superior. Seus confrontos de inteligência com Professor Van Helsing (Edward Van Sloan) estão entre as grandes lutas de poder na história do horror. São embates breves, mas que estão marcados na memória.

A personalidade de Drácula, por sua vez, é o que concede ao filme seus aspectos mais sombrios, e o principal motivo pelo qual o filme sobressai aos seus problemas. Drácula mantém controle cuidadoso sobre todos ao longo do filme, desde servidores de classe baixa até as mulheres de classe alta que são atraídas por sua exótica figura de nobre do Leste Europeu. Os homens da história lutam para salvar as mulheres das investidas noturnas do vampiro, sempre em busca das marcas das presas que possam ter sido deixadas nos pescoços. Ao longo do filme, as mulheres são vítimas fracas que não conseguem falar por si mesmas; elas devem ser protegidas da sexualidade secreta do Conde. É uma atitude bastante antiquada, pouco alinhados com o mundo de hoje em dia, mas que inegavelmente é uma das razões para Drácula ser uma presença tão ameaçadora e marcante na história do horror.

Drácula foi a primeira incursão de Hollywood pelo mundo do horror sobrenatural, e é naturalmente um trabalho passando por um processo. James Whale, mais tarde, promoveria grandes evoluções para o gênero com Frankenstein e sua continuação. Tod Browning, e Karl Freund, fizeram sua primeira tentativa. Mesmo com todas as questões que envolvem a produção e o desenvolvimento do filme, ele ainda funciona bem em sua proposta. Por isso e por sua importância como o início de uma nova era no cinema, Drácula ainda é elemento essencial para qualquer fã de filmes clássicos de horror.