Shaider

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Shaider

Uchuu Keiji Shaider (1984), Shozo Uehara (Toei Company).

A terceira série da saga dos Policiais do Espaço, e o terceiro tokusatsu da franquia Metal Hero, desenvolvido por Shozo Uehara da Toei Company e exibida originalmente em 1984. No Brasil, teve transmissão pela TV Gazeta (incompleta), depois pela Rede Globo (em horários horríveis, inicialmente de manhã muito cedo nos sábados e depois durante as madrugadas) e depois pela TV Gazeta de novo (que reprisou a série do começo ao fim). Continuação de Gavan e Sharivan, a série conta a história de Dai Sawamura (Hiroshi Tsuburaya), que durante a faculdade decifrou códigos relacionados às Linhas de Nazca no Peru. Impressionados com este feito, a Polícia da União Galáctica o recrutou para integrar a corporação após um período de treinamento. Quando a organização Fuuma invade a galáxia, Sawamura é transformado no terceiro policial do espaço e assume o codinome Shaider em memória de um antigo guerreiro que derrotou o Imperador de Fuuma milhares de anos atrás. Com ajuda de Annie (Naomi Morinaga), que deseja vingança por Fuuma ter destruído seu planeta natal, Shaider parte para a Terra na tentativa de encontrar uma forma de destruir o Grande Imperador Kubilai e acabar de uma vez por todas com a organização.

Shaider é provavelmente a série que mais sofreu com descaso de sua transmissão brasileira, com seus horários ruins e muitas vezes com episódios exibidos fora de ordem, e por isso também é uma das séries de tokusatsu menos lembradas e/ou conhecidas do público brasileiro. O próprio fato de ter sido exibida na Rede Globo (de forma tosca) contribuiu para isso, uma vez que a emissora nunca teve tradição de exibir tokusatsus e não estimulava o interesse de seu público pelo gênero, como a Rede Manchete e a Rede Bandeirantes faziam. Mas existe outra razão para Shaider ser uma série pouco reconhecida; porque ela é ruim, muito ruim, em vários aspectos, que infelizmente fizeram dela um encerramento indigno para a icônica trilogia dos policiais do espaço. Shaider, na verdade, tem grande valor mais pelo que representa do que pela série em si. Os três Policiais do Espaço são os antecessores de Jaspion, sendo que muitos conceitos trabalhados em Shaider (herdados das séries anteriores) é que ajudaram a construir Jaspion como a série incrível que conhecemos e adoramos desde crianças.

Shaider é ligado cronologicamente com Gavan e Sharivan, embora estes dois não aparecessem efetivamente na série como tinha acontecido nas duas séries anteriores – nada de crossover grandioso como a luta de Gavan e Sharivan contra Maoh Saiko. – Gavan e Sharivan apareciam apenas em menções, perto do final da série quando estavam enfrentando a invasão dos exércitos de Fuuma por toda a galáxia, sob a forma daqueles quadros desenhados que eram comuns para contar acontecimentos especiais da história nos tokusatsus de antigamente. O encontro dos três aconteceu somente no episódio 49 – Uchuu Keiji Crossover –, que era um episódio especial criado como último episódio de Shaider e que nunca foi exibido no Brasil. Nesse episódio, Gavan aparece careca e encontra com Sharivan e Shaider na Terra para relembrar os momentos que os levaram à vitória contra seus inimigos. Nada grandioso acontece nesse episódio. É apenas um encontro amistoso entre os policiais do espaço, em que eles se lembram das três séries – através flashbacks – e depois se transformam juntos depois que uma luz bizarra aparece no céu e diz que as crianças do mundo nunca viram os três juntos em seus trajes de combate. O interessante é que podemos ver o que aconteceu com os policiais do espaço e suas parceiras. Descobrimos que Lili está no Planeta Bird se preparando para assumir um cargo mais importante na corporação, Annie permaneceu na Terra estudando e se especializando em antiguidades egípcias, e Mimi se casou com Gavan.

Enquanto Gavan tinha começado toda a saga e dado origem a um novo gênero de tokusatsu, Sharivan veio para melhorar toda a proposta iniciada por seu antecessor. Shaider melhorou um pouco mais as coisas em termos técnicos, mas falhou por construir uma história genérica demais, protagonizada por um herói mais genérico ainda. Gavan e Sharivan se valiam principalmente de suas cenas de ação bem elaboradas, das doses inteligentes de suspense e terror, e do carisma de seus atores principais, Kenji Ohba e Hiroshi Watari. Shaider, por sua vez, tinha tramas mal desenvolvidas, em que a repetição característica da franquia era cansativa (algo que não acontecia com seus antecessores, que também contavam com repetições). Ideias que funcionavam muito bem em Gavan e Sharivan se repetiam à exaustão em Shaider sem a mesma eficiência, chegando ao ponto de, muitas vezes, causar vergonha alheia.

Outro grande problema era seu protagonista. Hiroshi Tsuburaya (hoje falecido) não tinha o mesmo carisma ou habilidades físicas de seus antecessores. Sua atuação era robótica e suas cenas de luta mal coreografadas. Ele não conseguia despertar a empatia que Ohba e Watari despertavam. O resultado era que quase sempre terminava sendo mero coadjuvante de quem parecia ser a verdadeira protagonista da série, Naomi Morinaga, que roubava todas as cenas em que aparecia.

Annie é a melhor parte da série, principalmente porque fugia do estereótipo das parceiras que apenas serviam de apoio. Ela também servia de apoio (claro), mas na maioria das vezes participava ativamente da ação. Ela caia dentro contra os vilões sem pensar duas vezes, e o mais sensacional dela é que não importava se estivesse sozinha contra cinco ou mais, ela encarava. Isso tornou Annie uma das personagens mais conhecidas e adoradas dos tokusatsus – lembrada também pela roupa de cowgirl e pela pistola esquisita que usava. – Naomi Morinaga se tornou idolatrada pelos fãs, tanto que mais tarde fez bastante sucesso no papel de Helen em Spielvan, e anos depois ficou famosa como estrela de filmes eróticos.

Vale mencionar que Hiroshi Tsuburaya era neto de Eigi Tsuburaya, o criador do gênero de Ultraman, e infelizmente faleceu no ano de 2001 devido a um câncer no fígado. Uma curiosidade é que o ator Hiroshi Watari (Sharivan) era um grande amigo de Hiroshi, e esteve próximo a ele em seu leito de morte e junto com a família durante todo o funeral.

De volta à série, Shaider era apresentado como reencarnação de um antigo guerreiro também chamado Shaider, e isso era meio jogado na história e acabava não fazendo muito sentido mesmo dentro da proposta do cenário, assim como não concedia qualquer peso extra ao herói. Os próprios vilões não ofereciam qualquer senso de ameaça. Eles eram fracos, sem graça, e cada vez que eles apareciam tocava uma musiquinha bizarra que estragava o clima de vilões perigosos que eles poderiam passar – e eles ainda dançavam ao som da música, o que não ajudava nada no quesito credibilidade. – Aqui no Brasil, ainda tivemos uma opção desnecessária feita em relação ao personagem andrógino Poe (traduzido aqui como Sacerdotisa Paú), que era originalmente interpretado por Jun Yoshida, um homem, tratado originalmente na série de forma assexuada, mas transformado em mulher na versão brasileira – porque certamente um personagem andrógino devia ser muito difícil de assimilar para a cabecinha intolerante de muitos brasileiros (tanto naquela época como hoje em dia). – O desfecho de Poe na série foi tão fraco quanto de todos os outros vilões, em combates curtos e sem qualquer emoção. Até o combate final contra o Grande Imperador Kubilai não despertou qualquer empolgação. Uma prova do potencial desperdiçado da série é que o encontro entre os três policiais do espaço (que citei anteriormente) poderia ter sido uma batalha épica dos três juntos contra o exército de Fuuma, em um desfecho sensacional que seria digno do título Uchuu Keiji Crossover. Mas não, Shaider terminou com um encontro morno entre os três, assim como foi a própria série: morna, sem grandes reviravoltas ou um grande clímax.

Uchuu Keiji Shaider desperdiçou o conceito incrível desenvolvido pela Toei Company e fechou a trilogia dos policiais do espaço de forma decepcionante. Por essa razão, o gênero dos Metal Heroes perdeu boa parte de seu prestígio como um todo – no Japão – e nunca mais conseguiu recuperar plenamente, tanto que Jaspion deveria ser uma continuação da saga dos policiais do espaço, mas mudou graças ao fracasso de Shaider. A Toei decidiu lançar Jaspion como um Metal Hero diferente (em alguns aspectos) na tentativa de recuperar o sucesso de Gavan e Sharivan, mas não conseguiu – Jaspion não teve sucesso no Japão como teve aqui no Brasil. – O único lugar onde Shaider fez grande sucesso foi nas Filipinas, um sucesso tão grande que deu origem a uma série (muito tosca) chamada Zaido, criada pela GMA Netword com aprovação da Toei e considerada pelos filipinos uma continuação de Shaider.

Apesar de todos os contras, Shaider é o fechamento da trilogia dos policiais do espaço e tem um lugar importante na história desses heróis com armaduras de metal – a armadura azul e reluzente de Shaider é até hoje considerada uma das mais bonitas dos Metal Heroes, com o que eu concordo plenamente. – Muitos de seus conceitos foram usados e aprimorados depois em Jaspion, Metalder, Spielvan e outras séries de Metal Heroes, ajudando a fundamentar um gênero que hoje em dia ainda tem bastante apelo entre os fãs. O sucesso da trilogia dos policiais do espaço provavelmente nunca será repetido – e nos anos 1990, a Toei até tentou com a trilogia Winspector, Solbrain e Exceedraft –, mas é um fato que Gavan, Sharivan e Shaider consolidaram o gênero Metal Hero como o conhecemos, e todas as três terão respeito eterno por isso.