Sharivan

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Sharivan

Uchuu Keiji Sharivan (1983), Shozo Uehara (Toei Company).

A segunda série da saga dos Policiais do Espaço, e o segundo tokusatsu da franquia Metal Hero, desenvolvido por Shozo Uehara da Toei Company e exibida originalmente em 1983. No Brasil, passou na Rede Bandeirantes e mais tarde na Rede Record. Foi precedida por Uchuu Keiji Gavan e sucedida por Uchuu Keiji Shaider, e como a história do meio, possui um pouco das duas. Para começar, Sharivan é quase que uma continuação direta de Gavan, uma vez que seu protagonista apareceu pela primeira vez na série anterior. Após ser salvo por Gavan, o patrulheiro Den Iga (Hiroshi Watari) entra para a Polícia da União Galáctica e, depois de um período de treinamento, surge como Sharivan no último episódio da série para ajudar Gavan em sua batalha final contra a Makuu. Com Gavan sendo promovido a capitão, Iga assume o posto de protetor da Terra, e precisa enfrentar uma nova ameaça: a Sociedade Secreta Madou, que a bordo do Castelo da Alucinação tenta escravizar os habitantes do planeta criando falsas realidades e terríveis ilusões.

Como série de transição, Uchuu Keiji Sharivan trouxe alguns dos conceitos mais importantes dos Metal Heroes, que seriam aprimorados depois em Shaider. Claro que ainda contando com muitos dos conceitos introduzidos na série anterior: Sharivan também se transformava usando um sistema especial de sua nave, a Grand Bus – ao gritar Raio Solar (Sekisha) –, quando veste a armadura vermelha que chamam de Medalha Solar – e toda a vez que ele se transformava, um narrador também explicava o processo que levava milésimos de segundos. – Ele também conta com a ajuda de uma companheira, Lili (Yumiko Furaya) – que apesar de lindinha, é a companheira com menos expressividade de toda a franquia –; e ainda tem a participação de Kojiro (Noboru Mitsutani), o tresloucado amigo de (todos os policiais do espaço em todas as séries) que funcionava como alívio cômico.

Os vilões também integravam uma organização criminosa, Madou, que supostamente ascende ao poder graças à queda da Makuu. A Madou também usa um dispositivo que transporta Sharivan para uma dimensão alternativa onde os inimigos ficavam mais poderosos – chamada de Mundo da Alucinação. – Uma variação de conceito é a transformação da nave em um robô gigante – meio quadradão e desengonçado –, que possuía um cockpit de onde Sharivan podia pilotá-lo, ao contrário do que acontecia antes com Gavan, que controlava seu dragão de pé no topo da cabeça do robô.

Sharivan tinha efeitos um pouco melhorados, e a própria tecnologia usada pelo herói – dentro do contexto dos anos 80, claro – era mais avançada. Ele contava com uma pistola (Crime Buster), ao invés de disparar raios das mãos como Gavan, e inclusive, tinha um aspecto mais de pistoleiro do que de espadachim. Era comum vê-lo enfrentando seus inimigos apenas com a pistola, invocando a espada apenas para encerrar com a luta usando o Choque Fatal Sharivan (Sharivan Crash). A espada laser, aliás, torna-se uma das grandes marcas nessa série, ao ter sua energia invocada sempre ao som de um instrumental denso, culminando sempre em um golpe especial que destrói os inimigos. Vale mencionar ainda que a dublagem brasileira do protagonista foi feita por Élcio Sodré, que anos mais tarde emprestaria a voz ao Cavaleiro de Dragão, Shiryu. E devo dizer que escutar ele gritando CHOQUE FATAL SHARIVAN é de uma empolgação absurda até hoje, a mesma de escutar um Cólera do Dragão. O cara sabe como dar um tom épico à voz num golpe especial.

Apesar das similaridades com o antecessor, Sharivan conquistou um sucesso estrondoso no Japão na época de sua exibição, e só não conseguiu o mesmo sucesso aqui no Brasil porque muitos o viam apenas como “uma cópia de Jaspion” – sendo que Sharivan é anterior a Jaspion. – O motivo para o sucesso é fácil de perceber ao longo da série. Misturando vários desses elementos que citei de Gavan com o carisma inegável do ator Hiroshi Watari como protagonista, Sharivan se tornou uma boa adição à franquia. Assim como com a série anterior, a história transcorria de forma episódica, desenvolvendo seu enredo principal muito lentamente.

Apenas mais para o final é que descobrimos sobre as origens de Sharivan, descendente do planeta Iga, e sobre como o planeta foi destruído milênios atrás. Ao longo da série, ele conhece outros descendentes do planeta Iga, que o ajudam em sua missão, como as garotas que protegiam o Cristal Iga – importante para derrotar a Madou e a reconstrução do planeta – e alguns guerreiros de Iga que vinham à Terra para ajudar o herói. Dentre esses guerreiros, a que ganhou mais destaque é Helen Bell (Yuki Yajima), que se tornava parceira de Sharivan por um tempo, mas acabava sendo morta, algo que serviu para Sharivan assumir definitivamente sua missão como descendente do planeta Iga e como responsável por reconstruí-lo. Além disso, apesar da curta participação, a importância de Helen também se estendeu ao fato de que ela serviu como uma experiência importante para as protagonistas femininas de tokusatsus que viriam depois, como Annie (Shaider), Emiha (Jiraiya), Diana e Helen (Spielvan), entre outras.

Gavan e Mimi, assim como o Comandante Qom e Marin, fazem participações eventuais na série, e inclusive Gavan participa ativamente do último episódio lutando ao lado de Sharivan para derrotar o Rei Demônio Psycho (Maoh Saiko), grande chefão da Madou. No final, com a destruição da organização criminosa, Den parte junto com as garotas do Cristal Iga para o espaço com o objetivo de reconstruir seu planeta natal. Na série seguinte, Shaider, o planeta Iga é citado como um mundo restabelecido e protegido por Sharivan, motivo pelo qual Shaider é convocado para assumir o posto de protetor da Terra.

Sharivan é provavelmente o auge da saga dos policiais do espaço, que apesar dos aprimoramentos nos efeitos visuais da época, conseguiu manter um aspecto investigativo na trama, com uma história envolvente e contemplativa, que não exagerava nas ideias mirabolantes – algo que se tornou um problema para sua sucessora, Shaider. – E como grande mérito, ainda manteve um nível de continuidade plausível com Gavan, sem que, contudo, fosse necessário conhecer a série do policial do espaço anterior. A luta conjunta de Gavan e Sharivan no episódio final é facilmente um dos momentos mais FODAS do universo dos tokusatsus, e para quem é fã do gênero, é certamente um crossover inesquecível.

Uchuu Keiji Sharivan teve grande importância para a franquia Metal Hero graças ao seu sucesso e por melhorar muitos dos conceitos apresentados em Gavan. Com uma história simples – porém, densa – e um protagonista carismático, a série passou meio despercebida aqui no Brasil, mas marcou a infância de muitos que a assistiram. Até hoje considero Sharivan o meu policial do espaço preferido, e o mais foda de todos! Hiroshi Watari, com sua performance cheia de paixão, também ganhou o Japão (e o mundo) por essa série, tanto que anos mais tarde interpretou Boomerman em Jaspion e assumiu novamente a posição de protagonista em Spielvan (além de várias participações especiais em outros tokusatsus).

Assim como os outros Policiais do Espaço, Sharivan ganhou uma versão para a Era Heisei – a era atual –, na forma de filme. O novo Sharivan apareceu pela primeira vez em Gavan: The Movie, que estreou em 2012 para comemorar o aniversário de 30 anos do primeiro Metal Hero. Sharivan: Next Generation traz Riki Miura como Kai Hyuga, um descendente do planeta Iga que assumiu a Medalha Solar de Sharivan e é discípulo de Den Iga. Hiroshi Watari, agora bem mais velho, faz participação especial no filme como mentor do protagonista.