A Hora do Mal (2025), Zach Cregger.
Ouça sobre o filme: podcast
Um filmão espetacular de terror e fantasia urbana. Em seu segundo trabalho como diretor, escritor e produtor, Zach Cregger mostra que é sem dúvida um dos grandes nomes do terror do momento, e esse novo filme é um pouco diferente de seu filme anterior, o também excelente Noites Brutais.
A Hora do Mal tem um tom mais lúdico e é trabalhado de uma forma menos densa. Não que não seja denso. Ele é. E é bastante tenso também. Cregger sabe muito bem como construir a atmosfera e a tensão das cenas, mas aqui ele é mais moderado na maneira de abordar o horror. E é justamente isso que faz o filme funcionar tão bem.
A história acompanha uma cidade que enfrenta o desaparecimento de 17 crianças de uma turma de escola primária que, inexplicavelmente, em um horário específico, às 2h17 da madrugada, saíram de casa correndo com os braços estendidos de maneira bizarra e sumiram sem deixar nenhum vestígio. Isso, naturalmente, acaba afetando a dinâmica da comunidade e afeta bastante os pais, a professora e vários outros personagens diretamente envolvidos no desaparecimento.
O filme se constrói maravilhosamente ao abordar a trama numa espécie de efeito Rashomon, com a narrativa dividida em capítulos, cada um focado no ponto de vista de um personagem específico. É através deles que vamos conhecendo, pouco a pouco, os fatos por trás do desaparecimento das crianças. Cada capítulo com cada personagem vai construindo pouco a pouco as peças do enredo que faz referências a diversos temas, como vício em drogas, luto, perda, bullying, tiroteios em escolas, e faz tudo isso com muitos toques de Stephen King.
Há ecos de O Iluminado, como o horário dos desaparecimentos (2h17) que é uma clara alusão ao quarto 217 do livro do King, que no filme do Kubrick foi alterado para 237. O número aparece de forma recorrente na trama, assim como a quantidade de crianças desaparecidas. Também há relances de It: A Coisa e do conto do Flautista de Hamelin, que quem assistir ao filme vai entender.
Essas referências se entrelaçam à narrativa em uma mistura de gêneros. Apesar de ser um filme de terror, ele não fica só na tensão e no suspense. Em alguns momentos, é melancólico, em outros, foca no drama. Às vezes, é extremamente perturbador, mas também é surpreendentemente divertido e até cômico, especialmente no clímax. Cregger faz uma boa aposta no aspecto lúdico, diferente do que fez em seu filme anterior.
Não obstante, o filme ainda cria alguns símbolos que podem facilmente ficar marcados no cinema de terror, tanto a “corrida do Naruto macabra” quanto o próprio antagonista da história, que é um personagem sensacional, com um clímax espetacular, exagerado, surpreendente, divertido e macabro, tudo junto. O clímax é uma tremenda surpresa.
A Hora do Mal é uma mistura de sensações, gêneros e formas de trabalhar conceitos através da narrativa, usando muito bem suas imagens, tomadas, cenários e personagens. Tudo é muito bem construído e estruturado. O elenco também merece destaque, especialmente Julia Garner, que interpreta Justine, a professora acusada após o desaparecimento das crianças. Ela tá maravilhosa no papel. O filme ainda conta com Josh Brolin, Benedict Wong e Alden Ehrenreich. E fica o destaque também para o personagem que representa o grande antagonista da história. Um dos melhores personagens que o terror tem a oferecer, com algumas cenas maravilhosamente bizarras e divertidas. A Hora do Mal é um filmão de terror. Recomendo fortemente.
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