Vingadores: Ultimato

Vingadores: Ultimato

Vingadores: Ultimato

Vingadores: Ultimato (2019), Anthony Russo e Joe Russo.

O fim é sempre melancólico, uma melancolia às vezes de contentamento, às vezes triste, muitas vezes tudo junto. Finais sempre me deixam nostálgico. Fico pensando na trajetória até chegar aqui. E no caso de Vingadores, é uma trajetória invariavelmente misturada com a minha própria. E sim, tô emotivo.

Digo que as trajetórias são conjuntas porque o lançamento de Vingadores: Ultimato é o fim de uma era, e como um final, me faz pensar em muitas coisas da minha história ao longo desta década em que a Marvel Studios desenvolveu seus super-heróis, seu universo e uma tendência que se alastrou por todos os cantos e mídias do cinema e da cultura pop. Foi, em parte, graças à Marvel que a cultura antes vista como nerd saiu da obscuridade, cresceu e ganhou amplo espaço no gosto popular. Eu mesmo criei o Nível Épico inspirado pelo pontapé que a Marvel deu com o primeiro Homem de Ferro, em 2008; levei anos para realmente tirar o projeto do papel, tanto que o Nível Épico só foi ao ar em 2010, na época já do lançamento de Homem de Ferro 2.

Sempre li quadrinhos de super-heróis, desde criança, e por causa do blog, comecei a escrever sobre os filmes e a escrever sobre as HQs e a escrever sobre tudo isso junto e como uma coisa se interligava na outra pra essa construção de universo compartilhado que a Marvel idealizou com tanta sagacidade. Por causa do blog, comecei a escrever críticas de cinema, a frequentar cabines de imprensa, a trabalhar na rádio 94fm onde estou até hoje, a profissionalizar algo que eu gostava de fazer. Lá se vão quase dez anos, a Marvel está fechando sua saga, e o Nível Épico continua aqui, firme e forte, quando muitos que começaram na mesma época que eu já não existem mais (por múltiplas razões). Isso me deixa pensativo sobre meu passado, o presente e pra onde posso ir no futuro (oi, Joia do Tempo!).

Muita coisa aconteceu durante estes 11 anos, muita coisa mudou. A começar pela quantidade de pessoas que aprendeu sobre o universo das HQs e suas coisas mais obscuras (Guardiões da Galáxia manda lembranças até hoje). Ainda me lembro de quando assisti à cabine de imprensa do primeiro Vingadores, em 2012: veio a cena pós-créditos e várias pessoas me pararam na escada de saída me perguntando se aquele que apareceu na cena era o Caveira Vermelha ~respondi que era o Thanos, grande vilão cósmico da Marvel etc. etc. e hoje TODO MUNDO SABE quem é Thanos, muitos já sabiam antes mesmo da Guerra Infinita, mas muita gente, muita gente mesmo, aprendeu no cinema (e o Caveira Vermelha ainda aparece na Guerra Infinita hahaha). Toda uma geração de fãs cresceu, mudou, formou e/ou reuniu sua família ao redor deste universo que muitos de nós líamos solitários nas páginas das HQs quando jovens e agora podíamos ver nas telas acompanhados de filhos, companheiros, parentes e amigos, todos juntos numa só empolgação. A Marvel apresentou e desenvolveu seus super-heróis para toda uma geração e isso é um feito lindo.

Essa foi inclusive a época que a coisa fundamentou: 2012. Muitos sites e blogs surgiram, cresceram, ganharam vigor por causa do efeito Marvel no cinema e nos quadrinhos (porque uma coisa ajudou a outra, lembrando que a Marvel quase faliu pouco antes de botar o Universo Cinemático em prática). A blogosfera (esse termo hoje praticamente ultrapassado e meio esquecido) nunca foi tão efervescente quanto nessa época. Eu e o próprio Nível Épico crescemos também: foi a época que começou a ter mais eventos pelo Brasil, conheci muita gente maneira, algumas nem tanto, fiz muitos contatos, e pouco tempo depois, comecei a fazer as pré-estreias que fazemos com o blog até hoje. Muita coisa aconteceu até o Nível Épico e eu chegarmos aqui, e nesse momento de encerramento de uma grande saga que me inspirou durante todo esse processo de construir o blog, não consigo evitar de refletir sobre tudo o que passou.

Com o Nível Épico e ao longo da década, fiz bons amigos que estão comigo até hoje, passei por muito perrengue, caí, levantei, perdi pessoas importantes, tomei algumas belas porradas da vida, aprendi coisa pra caramba e, especialmente, aprendi a ser mais eu mesmo. Dizem que é porque estou amadurecendo, e talvez seja isso mesmo. Porque o Nível Épico, sem dúvida, amadureceu. Ele já foi verde, com jeitão mais de blog bem lá no comecinho, continuou verde por um tempão, teve um momento com jeito mais de site de notícias e afins, e agora, ele é vermelho (uma cor que sempre gostei muito mais do que verde, pra ser sincero) e tá com jeitão mais de blog de novo (porque é melhor assim). Um amigo me disse quando mudei o Nível Épico para a cor e marca vermelhas: “Estávamos verdes antes, agora estamos maduros.” Não pensei nisso quando fiz a mudança, mas de repente, ela fez sentido. Em alguma instância, devo ter amadurecido mesmo. É o que acontece quando você tem quase 10 anos de saga, você aprende com seus erros e tenta fazer melhor na próxima.

É o que Vingadores: Ultimato representa: a maturidade do Universo Marvel no cinema. Uma década de histórias, percalços, erros, acertos, correções de rumo, queda e ascensão de heróis e atores, uma jornada digna de um grande épico, que cresceu, amadureceu e vingou maravilhosamente. Ultimato é o auge dessa maturidade. E como tal, tem tudo o que acompanhamos ao longo destes 11 anos de filmes. É meio sério, meio cômico, meio dramático, meio bem-humorado, tem cenas de ação que fazem tudo valer a pena, e algumas das cenas mais densas e emocionais de toda a história do Universo Marvel no cinema ~com algumas cenas bem zoeiras pra equilibrar hahaha Este é um filme feito de fã para fã (como sempre pensei o próprio Nível Épico) e, como tal, nos brinda o tempo todo com todo o conhecimento que adquirimos ao longo dos 21 filmes que vieram antes ~à sua esquerda. Há resolução de questões construídas nos filmes anteriores, cenas que lembram páginas de Jack Kirby, George Pérez e Ron Lim, momentos especiais do trio supremo Homem de Ferro, Thor e Capitão América -putaquepariu O CAPITÃO AMÉRICA!!!, homenagens à obra de Jim Starlin e sua Guerra Infinita nos quadrinhos, nossa despedida de Stan Lee em suas divertidas participações, e muito mais a se aproveitar em suas três horas de duração. Se você se apaixonou e se conectou com qualquer dos filmes anteriores, você vai se apaixonar e se conectar com o desfecho de tudo.

Na verdade, não há muito o que falar sobre o Vingadores: Ultimato em si, em termos de crítica, resenha etc. Sejamos honestos, nem precisa. Depois de tudo e de todos esses anos, e considerando o que esse filme e esse universo cinematográfico representam, Vingadores está além disso. Não é um filme pra se analisar, é um filme pra se sentir. O filme é apenas o que deve ser: épico, emocionante e com um nível narrativo ousado e muito bem planejado. Quando você alcança algum grau de maturidade, você busca um equilíbrio pras coisas. E a história conquista esse equilíbrio com maestria. O sentimento que Vingadores: Ultimato me deixa é um pouco parecido com o sentimento que Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei me deixou (outra grande saga pela qual sou apaixonado e que até hoje me emociona) ~ainda mais com o estilo de busca da Sociedade do Anel que a busca dos Vingadores contra Thanos assume de vez em quando. E há o puro e simples heroísmo “Eu sou o Homem de Ferro.” Vai ecoar pela eternidade.

Vingadores: Ultimato é muito prazer e emoção. Não é apenas uma solução para os eventos da Guerra Infinita, é um belo encerramento de toda uma saga épica. Tanto que o filme, ao contrário de todos os anteriores, não tem cena pós-créditos, e isso faz muito sentido (mas os créditos são lindos, belas homenagens, e claro que fiquei assistindo aos créditos até o final de qualquer maneira em respeito a estes 11 anos de Marvel no cinema). Foi uma jornada incrível. Foi divertido PRA CARAMBA acompanhar isso tudo, especialmente acompanhado do Nível Épico e de tudo o que isso me trouxe e me proporcionou. Eu tô muito feliz! Parece até que tô me despedindo também hahaha mas não tô, juro. Estou apenas fechando um ciclo, como a Marvel está fechando seu ciclo. Sabemos que o universo compartilhado vai continuar com suas sequências, derivados, séries e afins, assim como o Nível Épico vai continuar aqui, por mais 10 ou 20 ou sei lá quantas décadas apaixonado pelo cinema e pela cultura pop. Mas agora, as coisas serão diferentes. O sentimento será diferente. É tempo de recomeçar. E toda uma geração vai mudar, crescer e amadurecer novamente a partir daqui. Porque tudo é um ciclo. E está na hora de começarmos um novo. Talvez um em 14 milhões de possibilidades.